Por Carolina Tapia
Foto de Gastón Torres
A manta quase explode de tantas cores, foi comprada numa viagem e quebra a monotonia do impecável sofá de linho cru de três lugares. Sobre a mesa de centro, descansam os livros organizados por histeria e por tamanho. A bandeja sustenta um jogo de porcelana inglesa, um tesouro herdado – merecidamente – de alguma tia da qual se deveria ter muita paciência, além da quantidade de lã enquanto ela bordava e bordava.
Esses objetos estão presentes na minha casa, mas não se equivoquem. Mesmo que estejam estampados sobre a página dupla central de uma revista de decoração espanhola, umas dessas que comprei para roubar idéias e para me perguntar como se faz Amparo de Barcelona para manter esse lar “branco Ala”, com seis meninos e tudo. E mesmo que meu sofá não está nada mal – uma maravilha de segunda mão conseguida na internet – , a sensação de relax se dissolve quando ao deitar-me para ver um filme, sinto um pedaço de plástico furando minhas costas. E deveria ser grata, porque uma vez quase morro desangrada por uma caneta rabiscadora.
A mesa de centro se transformou em mesa fantasma. Porque desapareceu. É que o tampo de vidro dessa mesinha – resgatada da rua e salva de algum cachorro com vontade de marcar território – se converteu em uma arma letal. Por isso as xícaras de café com leite descansam sobre “alguma coisa” que faça o favor de sustentar: uma caixa de papelão, um cajón peruano, ou o que vier.
Agora, pensando bem, culpar uma criatura de dois anos não é legal. Sendo sincera, minha casa sempre sempre teve um estilo meio infântil, muita bagunça, um pouco inacabada e um pouco de pretensão de ser casa de revista. Pode ser que eu tenha encontrado uma linda desculpa para canalizar culpas por minhas bagunças e, ao mesmo tempo, uma maravilhosa fonte em fraldas de insperação e de amor.