secretária / 30 octubre 2010

Relaxo

Por María
Foto de Gabriela Menichetti

Tomava um café com uma amiga que estreiava a independência. Escutava suas novas experiências e sensações sobre a vida de adulto. A maioria muito boas, mas uma contra alarmante:

– Não imaginei que manter uma casa em forma fosse tão trabalhoso. Chego do trabalho as sete e a única coisa que faço é varrer, passar pano, lavar roupas, limpar vidros…Quando termino já não sirvo pra mais nada – disse um pouco angustiada.
– Sim, leva muito tempo mas… Calma aí: De quanto em quanto tempo você passa pano? – perguntei.
– Todos os dias, óbvio – respondeu.

Como? TODOS os dias? Me senti completamente em off-side, porque não conseguia me lembrar a última vez que havia feito o mesmo na minha casa. Lhe respondi um evasivo Tranquila, você já vai encontrar seu ritmo e mudei de assunto.

Mas isso ficou na minha cabeça, e essa mesma noite, enquanto olhava o chão com atenção, me lembrei de uma observação bastante comum nos comentários: Como fazem para limpar tudo isso?, adiante de uma simples estante com adornos. Ficamos rotuladas no esfrega – esfrega das nossas avós donas de casa? O na realidade pensamos que é coisa de loucos (ou imundos) quem não elimina 99,9% dos germes e bactérias? É realmente tão perturbador a presença de um pouco de pó entre os livros?

Se não somos alérgicos ou não temos um bebê que coloque na boca tudo o que vê, não seria melhor dissolver a necessidade urgente de ver a cada coisa brilhar para fazer com que o fato de estar em casa seja um recreio? É possível ser limpo e não obsessivo com o tema da limpeza. É possível ter coisas lindas e decidir com bom humor quando queremos encarregár-nos dela.

(Agora, se você faz uma faxina profunda todos os dias porque é um maluco que alcança o climax quando tem um cif na mão…essa já é outra questão.)