secretária / 21 agosto 2010

A colcha

Por Natalia Alabel
Foto de Paula Visne

*RIING!

– Comprei uma colcha pra você.
– Ehm, ok, obrigada mãe…
– É meio feia.
– E se é feia porque você comprou?
– É melhor que essas mantas horríveis que você tem.

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Eu detesto a minha cama.

É um dos melhores modelos de sommier de La Cardeuse, king size, divina e caríssima. Comprei para viver com ele que agora é meu ex. Na semana da mudança o rapaz em questão foi viajar, voltou quatro meses depois e terminou comigo. Fui a um apartamento de um cômodo e as 3/4tas partes da superfície foram ocupadas pelo lindinho do sommier. Muito espaço para o amor que não foi, né? E isso que o uso com o Cristian, o namorado que veio depois. Mas quando ele não está, meu enorme e espetacular sommier me incomoda.

Por esse motivo eu não gosto de gastar nenhum centavo nesta cama. Está coberta com colchas velhas e almofadas um pouco rasgadas. Na realidade não é tão feio assim, tento dar um charme com o que tenho. Pelo menos as cores combinam.

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A colcha era feia. Rosa claro com figuras geométricas com um tom de rosa mais escuro. Era de boa qualidade, e sem dúvidas estava barata. Mas me fazia mal vê-la. E com ela a cama dinossauro ficava ainda maior. Fiquei nervosa.

– Há milhões de coisas que eu preciso muito mais que uma colcha. Não gaste dinheiro com isso! –Eu disse.
– Não enche o saco –sentenciou minha mãe.
– Vou sair daqui –disse o Cristian, e fugiu para a cozinha.

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– Não é que sou uma mal agradecida. Eu entendo que minha mãe queira me ajudar, ela é uma fofa. Mas tenho outras prioridades de coisas que preciso mais e além disso, odeio essa colcha! –eu choramingava para o Cristian.
– O que te incomoda não é a colcha. O que te incomoda é que alguém decida sobre o seu espaço –me respondeu.

É verdade. Desde que me mudei agradeço a toda ajuda, mas minha ordem e minha desordem são minhas. Sou dona de meus acertos e dos meus erros na decoração.

Ainda não pude resolver o que vou fazer com a colcha. A tenho guardado na sacola. Provavelmente a usarei mais adiante, quando encontre a maneira de apropriar-me dela. Talvez com almofadas novas, e algum quadrinho na parede…

Nããão, melhor mesmo é vender o sommier com o pacote completo, e com esse dinheiro compro um notebook.